Perfil Profissional

Curitiba, PR, Brazil
Administrador de Empresas com mais de 18 anos de experiência em cargos de gestão em grandes empresas nacionais e multinacionais, responsável pela gestão de equipes multi-funcionais, abertura de carteira de parceiros de negócios nos segmentos de Serviços e Comércios Varejista, Atacadista e Distribuidores, com alcance nacional, tendo negociado diretamente com grande número de empresas nestes segmentos. Comentarei neste blog notícias que possam interessar aos profissionais da área comercial, assim como eventuais oportunidades de negócio e tendências nos segmentos de Telecom e Varejo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

‘Vende-se casas’ ou ‘vendem-se casas’?


“Em ‘vendem-se casas’, o termo ‘casas’ é o sujeito da oração. Mas outro dia li em uma apostila o seguinte: ‘Tal explicação da gramática normativa sobre a voz passiva sintética e a classificação do sujeito nesse tipo de frase tem sido criticada por muitos linguistas. Sendo, porém, regra gramatical cobrada em vestibulares, optamos por trabalhá-la na forma tradicional.’ Gostaria de saber qual é a crítica. Obrigada.” Andréa Stancius Lima
A crítica, Andréa, é simples: a interpretação de “vendem-se casas” como uma frase que se encontra na voz passiva sintética, à qual corresponderia “casas são vendidas” na voz passiva analítica, é denunciada por muitos linguistas como um exemplo claro de arbitrariedade – ou aversão ao método científico de compreender a língua – da gramática normativa.
Sustentam eles que faz mais sentido interpretar o “se”, nesse caso, como índice de indeterminação do sujeito. E argumentam que em “precisa-se de vendedores” o “se” é precisamente isso, como a própria gramática normativa admite: o verbo transitivo indireto não permite que se imagine um absurdo “vendedores são precisados”, certo? No entanto, a ideia é exatamente a mesma em “precisa-se” e “vende-se”, ou seja, alguém precisa, alguém vende!
Fica assim explícito o caráter arbitrário de uma análise que, diante de construções tão evidentemente semelhantes como “vende-se casas” e “precisa-se de vendedores”, aplica a cada uma um critério diferente – “casas” vira sujeito, mas “vendedores” é objeto indireto – e decreta que apenas a segunda está correta.
O linguista Marcos Bagno, um dos mais combativos do país na denúncia desse tipo de regra gratuita, chama uma frase como “vendem-se casas” de “pseudopassiva sintética”. Mas é interessante notar que até um gramático tradicional como Evanildo Bechara, filólogo de plantão da Academia Brasileira de Letras, aceita a tese do “se” como índice de indeterminação em sua “Moderna gramática portuguesa”:
…o ‘se’ como índice de indeterminação do sujeito – primitivamente exclusivo em combinação com verbos não acompanhados de objeto direto –, estendeu seu papel aos transitivos diretos (onde a interpretação passiva passa a ter uma interpretação impesssoal: ‘Vendem-se casas’ = ‘alguém tem casa para vender’) … A passagem deste emprego da passiva à indeterminação levou o falante a não mais fazer concordância, pois o que era sujeito passou a ser entendido como objeto direto…
Bechara conclui o raciocínio dizendo que “vende-se casas” é uma frase “de emprego aindaantiliterário, apesar da já multiplicidade de exemplos” (grifo meu), mas reconhece que “ambas as sintaxes são corretas”.
Essa questão do “emprego ainda antiliterário” de “vende-se casas” merece ser desdobrada: acredito que Bechara quis alertar o leitor de sua gramática para o risco de usar tal construção em textos formais – entre eles, naturalmente, provas. A correlação de forças está mudando, mas, qualquer que seja o veredito de um filólogo da estatura de Bechara (“ambas as sintaxes são corretas”), ainda há lá fora um exército de professores, chefes e revisores dispostos a passar a caneta vermelha na frase.
Trata-se de uma cautela que também recomendo – o que, naturalmente, não impede ninguém de compreender a crítica que os linguistas fazem à gramática tradicional, e que neste caso me parece cheia de razão. De resto, o que vejo no campo “literário” é justamente a tendência de acatar cada vez mais a interpretação do “se” como índice de indeterminação do sujeito em construções como “vende-se casas”. Millor Fernandes uma vez me repreendeu por não escrever assim. “Simplifiquei”, disse.
Se já ganha há algum tempo tal tipo de sanção culta, podemos ter certeza de que um uso como esse não demorará a ser pacífico. Mas cuidado com as provas!

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/consultorio/%e2%80%98vende-se-casas%e2%80%99-ou-%e2%80%98vendem-se-casas%e2%80%99/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário. Participe.