Você conhece o tipo. Ele já foi avisado diversas vezes de que precisa melhorar alguns aspectos na sua conduta profissional. Ou é um cara que não responde aos emails com agilidade. Ou que não dá feedback condizentemente a seus funcionários. Ou que tem uma postura meio insubordinada, de permanente desafio aos chefes. Ou então é um cara que se atrasa de modo contumaz em seus compromissos. Ou que faz tudo do seu jeito, à revelia dos outros, assumindo muitas vezes posições inegociáveis dentro do escritório. Ou que é brutal no tratamento dos subordinados. Ou que…, bem, você pode pensar num bocado de coisas para cobrir essas reticências.
Apesar de tudo isso, e de essas deficiências serem notórias e públicas, você já percebeu que o sujeito está muito longe de ser demitido. Ou mesmo de ser advertido mais seriamente. Como pode? Você que é tão menos cheio de arestas patina na carreira e o sujeito, cheio de espinhos, não para de avançar. Quer saber, só aqui entre nós? Provavelmente ele será promovido, com suas idiossincrasias, antes de você, que é todo certinho, que tem o perfil do funcionário que seu chefe pediu a deus. Mas por que – meu deus?
A verdade é que o sujeito que é recorrentemente negligente em determinado aspecto da sua conduta só sobrevive, só pode continuar vivo na carreira, se for muito bom, mas bom demais, em algum outro aspecto. (A outra hipótese é que ele conhece algum podre, é amante de alguém importante, tem, enfim, as costas esquentadas por algum fator não profissional. Mas não é disso que estou falando) O ponto aqui é que o sujeito só pode se dar ao luxo de ser ruim num aspecto se ele for estupendo em outra função que a companhia considere mais importante. É daí que vem a autoconfiança quase suicida de sujeitos assim, que, ao contrário de você, não estão nem aí para seus eventuais defeitos ou para as críticas que recebem. Afinal, eles já perceberam que suas virtudes parecem compensar todas as arestas, aos olhos da empresa. Ou o cara vende muito bem. Ou tem ideias sensacionais. Ou é um exímio cortador de custos. Ou é querido pelos clientes. Ou tem grande entrada junto aos investidores. Ou é um grande negociador junto aos credores.
As empresas fazem facilmente essa troca – ficam com as vantagens que o sujeito oferece e engolem os aspectos menos brilhantes que ele por ventura carregue consigo. Numa palavra: esse cara vai se eternizar na companhia, tem muito mais chances de fazê-lo do que você. E não porque ele seja em maior medida do que você um funcionário que a alta direção pediu a deus, mas precisamente porque ele é o funcionário que a turma do andar de cima pediu ao diabo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário. Participe.